Votação da lei de fomento foi uma boa vitória,
mas suscitou novos debates
26 de dezembro de 2013
| 19h 00
Helena Katz / Especial para o Estado
- O Estado de S. Paulo
A
produção artística está sempre atada às condições que regulam a sua
possibilidade de existir. Isso significa que o que se assiste nos palcos não
depende apenas do talento dos artistas, pois só é possível criar em acordo com
as regras vigentes no ambiente. E no momento, o ambiente da dança é determinado
pela lógica dos editais, que tem comprometido bastante o que de fato chega ao
público.
Tendo
se transformado na única possibilidade de sobrevivência, os editais determinam
o ritmo da produção – que, nem sempre, combina com os tempos que os processos
artísticos pedem, e essa condição interfere muito diretamente no que dela
resulta. Pensando apenas nesse aspecto, o mais natural seria celebrar a votação
na Câmara Municipal da nova Lei de Fomento à Dança, que prevê contemplar
projetos para um período de até dois anos.
Mas
essa vitória suscita uma reflexão que vai em outra direção, diferente da que
sustenta o contexto que hoje se tornou hegemônico, e que entende que a tarefa
que se impõe é a de reformar os editais para que funcionem melhor. E se, ao
invés de se dedicar a remendar o que já existe, se pensasse um outro tipo de
existência, a partir da experiência acumulada em todos esses anos de editais?
Isso
significaria colocar energia em outro tipo de ação, que ninguém sabe de antemão
qual será, e que depende daquilo que os artistas melhor sabem fazer porque é
inerente a qualquer processo de criação: arriscar. Sucede que todos esses anos
de editais produziram um tipo de conformismo e apatia que se resume no “melhor
com ele do que sem ele”, como se a vida só fosse feita pelo que já se conhece.
Talvez
o mais importante de 2013 tenha sido justamente a continuidade de um movimento
cujo tipo de organização ainda não havia sido praticado. Nascido da associação
da Cooperativa Paulista de Dança com o Mobilização Dança, o movimento A Dança
se Move reuniu-se ao longo de todo o ano, preparou novos projetos e está
reavivando na classe a necessidade do engajamento conjunto para a construção de
políticas públicas sintonizadas com as suas necessidades. Não é pouca coisa,
sobretudo quando se sabe que a lógica dos editais leva cada um a cuidar somente
de si mesmo e a se queixar ao outro do sistema montado – como se ele não fosse
sustentado por quem dele reclama e não fossem eles os que detêm a força para
transformá-lo.
Há que destacar também um traço novo,
que merece registro. Aumenta o interesse pela crítica de dança realizada pelos
próprios artistas, que inaugura um outro tipo de escrita, muito bem-vinda nos
tempos da crise que assola o jornalismo cultural. Dentre outras, iniciativas
como as de Daniel Kairóz (que já editou dois números da sua publicação),
Joubert de Albuquerque Arrais (que lançou o Dança com a Crítica há
pouco) e sobretudo o 7 x 7, iniciado por Sheila Ribeiro (e reconhecido pela
Bienal de Dança do Sesc e pelo Festival Contemporâneo de Dança, que o contratou
para fazer a cobertura das suas programações), sinalizam nessa direção. Um bom
augúrio para 2014.
Com
imagens, em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,na-danca-artistas-discutiram-o-proprio-oficio-e-novas-formas-de-sobrevivencia,1112548,0.htm
-- ACESSE APRODANÇA
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